Debateu-se esta semana o que era a esquerda e o que era a direita. Estas discussões são uma das três actividades mais estúpidas que se podem realizar (não me lembro das outras duas). Normalmente a conclusão a que se chega é de que é algo como “é de esquerda quem passeia nu ao fim-de-semana e não despreza à partida cinema francês e é de direita quem come caracóis e acha que o John Wayne era um herói nos filmes “(sendo a outra visão possível a de que era um genocída de índios). Desconfiem sempre das pessoas que dizem sempre “eu sou de esquerda” ou “eu sou de direita” como se estivessem a dizer “eu sou moralmente perfeito, intelectualmente desenvolvido e consequente nos meus actos”, ou seja “eu tenho uma granda pila”. Eu sou de direita apenas para não ter que dizer “eu sou de esquerda”. Normalmente as pessoas que dizem orgulhosas “eu sou de esquerda”, fazem-no sempre com alguma irritação (como se não pudéssemos por um momento só duvidar de que ele não fosse de esquerda) e com o tipo de orgulho que faz tremelicar as narinas. É claro que, alguém com menos de quarenta anos em Portugal, dizer , “eu sou de direita” é quase como afirmar “eu roubo, abuso de criancinhas, sou racista, burro e possuo perversões morais e sexuais que davam para filmar oito filmes de psicopatas”. Outro dia um gajo disse-me indignado (e bêbado, já agora) “a esquerda procura a verdade”. Preciso comentar??? Lembro-me também, de um amigo meu reagir, perante a minha afirmação de que era de direita, exclamando: “e tu dizes isso assim, em voz alta??” O que me irrita, o que me angustia intelectualmente quase como se, intelectualmente, me estivessem a espremer os tomates com um quebra-nozes, é a pretenção dessas gentalha de que esquerda e direita são tipos. Hum hum digo eu, então há dois tipos de pessoas, as de esquerda e as de direita? Normalmente os teóricos respondem “Não, mas sim”. Como se um gajo só pudesse ser comuna ou fascista. Mas, não passou já esse tempo? Foi hilariante ver os debates internos do PS. Qualquer pessoa com dois dedos de cabeça sabe que não existe nenhum regime de esquerda pura que funcione, não existe em lado nenhum socialismo ou comunismo operante. E, por amor de Wall Street, de Buda, de Scolari ou de quem queiram, não me venham com a porra do exemplo da Suécia, ou mademoiselles acham que se não fosse a altamente produtiva economia sueca, que se não fosse, por exemplo, o facto dos IKEAS se espalharem como baratas no verão, a Suécia teria as benesses sociais que existem hoje em dia (e que poderiam, de certa forma, ser vistas como um pouco totalitárias e redutoras da liberdade individual, mas isso fica para outras núpcias….). Também não existe nenhum regime de capitalismo puro. Os EUA?? hahaha, são proteccionistas, vergonhosamente proteccionistas. A União Europeia, bahahaha, idem aspas aspas. Mais uma vez no meio é que está a virtude (já agora, no meio é que estão também outras coisas começadas por V e também bastante desejáveis). É claro que entre os liberais puros e os comunas há uma larga gama de opções políticas. Até que ponto a Saúde e o ensino devem pertencer ao estado. Qual a margem de manobra dada ao sector privado. Qual o limite entre público e privado. Que importância dar à tradição etc etc continuam a ser questões esquerda direita. Agora, em vez disso, discutir o que é a esquerda e o que é a direita, quem preza mais a igualdade e a liberdade e outros temas de suprema dialética política é tão fundamental como masturbar formigas. Tendo dito isto, venham as vossas reacções esquerdalha orgulhosa!
Nunes A